Quando iniciei essa pesquisa sobre os Banquetes Surdos sabia que, além dos surdos Pierre Deslogues e Ferdinand Berthier (meus “informantes” sobre a ideia da existência de um povo surdo), outras personalidades surdas tiveram destaque na época. Penso que quando eu mergulhar nas Atas dos Banquetes Surdos poderei encontrar novos personagens. Isso já estava previsto. Mas com o estudo dos primeiros textos já começam a aparecer esses surdos ilustres e defensores da cultura surda.
A seguir apresento uma rápida biografia de Pierre Pélissier, deixando para outro momento a inclusão de sua obra em busca de indícios da construção da nação surda.
O francês Pierre Pélissier (1814-1863) ficou surdo aos cinco anos de idade, de causa não conhecida. Como a maioria das crianças da época, só começou a ser alfabetizado tardiamente: em 1825 foi admitido na escola para jovens surdos em Rodez, depois em Toulouse, onde acabou se tornando professor da instituição. Em 1843 ele passa a trabalhar como professor na então Escola Imperial para Surdos-Mudos em Paris (o atual Instituto Nacional de Jovens Surdos), onde permaneceu por vinte anos, até sua morte.
É o poeta surdo mais famoso: em 1837, apresentou em um concurso da Academia de Jogos Florais de Toulouse, uma elegia intitulada "Mes regrets/Meus arrependimentos" que lhe rendeu uma menção honrosa. Até hoje esse poema é muito valorizado pela comunidade surda francesa. Em 1840 , na Revista L'Ami des sourds-muets , seu sinal é descrito "Com a mão direita desenhe linhas na palma da mão esquerda": Atualmente esse é o sinal em Língua de Sinais Francesa para “Escritor", mas na época foi então compreendido como "Poeta".
É interessante sabermos que Pélissier era bilíngue Língua de Sinais e Francês escrito, sendo que ele não oralizava. Segundo relatos do seu professor Abée Chazottes, sua voz seria muito “fraca” (QUARTARARO, 2008). Além disso, ele pensava seus poemas primeiramente em Língua de Sinais, sua primeira língua.
Pélissier publica 1844, "Choix de poésies dún sourd-muet/Poemas escolhidos de um surdo-mudo".
Em 1856, após 13 anos de ensinamentos no Instituto, ele publicou sua mais importante obra: "L'Enseignement primaire des sourds-muets mis à la portée de tout le monde, avec une iconographie des signes”, onde podemos visualizar pela primeira vez os sinais da LSF de maneira organizada. Em 21 pranchas (desenhadas por Léopold Levert, um artista ouvinte) ele categoriza as palavras como alimentos, bebidas, animais etc, além de dar destaque aos adjetivos, numerais, verbos, advérbios e preposições.
Na última página do livro, além de enumerar suas obras já publicadas, tomamos conhecimento da existência de uma pesquisa que estava sendo realizada desde 1850, o primeiro dicionário da Língua “Universal” de Sinais (destaque meu, lembrando que naquele momento existia a crença da possibilidade da existência de uma língua que fosse universal, defendida por Berthier) com mais de 20 mil sinais. Na propaganda do futuro lançamento, há um destaque para o fato que as ilustrações serão realizadas por Métivier, surdo. Não foram encontradas referências a esse personagem em nossas pesquisas.
“A publicar quando o número de assinantes o permitir: Dicionário da Língua de Sinais Universal. Com desenhos completos. Elaborada em 1950 como um monumento único e inédito até aos dias de hoje, esta obra, em grande parte pronta, será entregue e conterá cerca de vinte mil figuras, cuidadosamente desenhadas por MÉTIVIER, surdo-mudo. Vimos um exemplar na Exposição Universal de 1855. É possível reservar agora sem pagar nada adiantado.”
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